sábado, 18 de fevereiro de 2012

O dia que entrei na De Lamare

1971


De Santana até a Cidade Universitária eram duas horas, no diesel que vinha do Jaçanã.
Sonhava em ser piloto
Depois dos dois primeiros meses de aula já tinha entendido a fama da Escola Politécnica.
As aulas de cálculo eram insuportáveis, assim como os veteranos. Resolvi mudar o roteiro, desci na Cidade, fui ao parque Dom Pedro, um ônibus até o largo 13 e de lá um terceiro para Interlagos.
Desci perto do que é hoje o portão 7, fui até o outro lado da rua na Escola de Pilotagem De Lamare.


Portão aberto, mecânicos sobre um formula Ford:
- Bom dia, vocês precisam de um estagiário de engenharia?
- Ô moleque, você é engenheiro?
- Não!
- Bem, sobe ali e fala com a Gigi. Ela manda aqui.


- Toc toc, dona Gigi?
- Eu mesma, o que você quer?
- Quero fazer estágio em carro de corrida.
- O que você sabe fazer?
- Nada.
- De graça pode, sem atrapalhar. Desce lá e fala com o Manelão, um grandão, fala que você vai ficar aqui aprendendo.
- Legal.


- Manelão? Eu sou Marcelo, estudo engenharia e a dona Gigi falou para eu ficar aqui ajudando.
- Tudo bem "ô engenheiro", fica aí olhando e não atrapalha.


Fiquei maravilhado: Fórmulas Ford, um Fúria, um Trueño argentino e o famoso 84 quatro portas.
No fundo, o monobloco de um opala duas portas.
- Este será o novo 84, vamos criar tudo nele, explicou o Manelão.


Tivemos a ideia e desenhamos um tanque de combustível para 120 litros que não permitisse a oscilação do carro nas freiadas, através de chicanas retentoras.
Alguns dias depois, fui com o meu amigo Luiz Goes ao Corpo de Bombeiros da Liberdade para aprender com os especialistas do fogo como fazer funcionar uma "ideia revolucionária": um tanque dentro de outro, no meio um "colchão" de gás freon, para impedir incêndio em uma pancada


Foram dias de muito entusiasmo, até que a Politécnica e sua chatice me chamou de volta. Percebi que minha carreira de piloto exigia uma decisão difícil: Era a Poli ou pilotagem. 

Não queria me afastar daquele ambiente, mas meu espírito CDF falou mais alto. Ao menos, naquele momento.



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