terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Fotos da Fórmula Vee

Confiram as belas imagens da Fórmula Vee, clicadas por Rodrigo Ruiz no último final de semana, quando testei o carro pela primeira vez:

Clique AQUI para acessar o site.


A Formula Vee é apaixonante

Caros amigos.

Neste último final de semana experimentei o Fórmula Vee, participando da etapa do Campeonato Paulista.


Treinei suave para conhecer e mudar meu set up mental, pois pilotar F-Vêe é radicalmente diferente do Puma (pontos de frenagem, aceleração, tomadas, vácuo).
Larguei atrás sem qualquer pretensão, apenas com o objetivo de "sentir" o carro.
Com o rádio, iam me auxiliando para encontrar uma pilotagem mais forte. Mesmo assim, fiquei bem longe de um tempo decente, sentindo que é possível melhorar muito.

Concluí o que temia: F-Vee entrou definitivamente no meu coração. Andar em Interlagos com "a cara pro vento", ver as rodas no horizonte, o verde nas margens da pista são sensações que eu havia sonhado e não experimentado com o Puma.
A Formula Vee é mais lenta, mas isso não deprecia a pilotagem. Pelo contrário, as disputas são mais difíceis. Os carros andam juntos nas retas.
Tem vácuo, eu nunca havia experimentado isso. Fantástico colar no carro da frente, tirar e ter motor para passar! É na frenagem e na velocidade de curva que se ganha a prova. É no "braço" e não no motor.

Amigos, experimentem.
Falem com os organizadores, eles facilitarão a vocês esta oportunidade. Ao Eduardo, Nenê, Zullino, Joca, que me apresentaram a este carro, obrigado. Se vocês procuram as emoções que citei, aqui vai uma dica: algumas voltas na Fórmula Vee e terão um dilema pela frente.

Abraços



"Xuxinha" Zucarelli (parte IV) - "Xuxinha" vira D. Zucarelli

1º de maio de 94, domingo.
Estava ansioso por chegar.
Na terça, teria meu encontro com Ayrton.

Pousei em Guarulhos muito atrasado. voo de NYC havia demorado horas para decolar.
Enquanto aguardava as malas, liguei para casa e a Beth me avisou: Ayrton bateu forte.
Confesso que não fiquei preocupado. Talvez um braço quebrado. "Este cara está com azar este ano", pensei.

Mas quando cheguei em casa e vi a reprise da batida, percebi que era o fim. Horas depois, a confirmação: Ayrton está morto, dizia a médica italiana.

Liguei para Diogo e ouvi de um garoto de 12 anos:
- Tio, a gente entra na pista pronto para morrer. Vamos tocar nossa vida, a dele já foi.

Era o começo de um novo momento.
O encanto da fada madrinha acabou e com ele, o dinheiro.
A temporada de 94 e seguintes foram muito difíceis.
Como piloto oficial da Mini (o segundo da história, antes somente Nicastro teve esta honra), Diogo trabalhava duro para desenvolver os PCRs contra os Parillas.
Vieram algumas vitórias, garantidas no "braço".
Os motores frágeis trouxeram muitas poles, mas poucas vitórias.

Deste período, lembro dos treinos "secretos" com dois pilotos que o adotaram como mascote: Tony Kanaan e Rubinho.
Missão: treinar... porrada!
Tive a certeza de que piloto que acelera é maluco.

Lembro do período em que Max Wilson o orientava, atuando como coordenador de pista. A concorrência era forte.
Apesar de Massa ter trocado o kart pelos fórmulas, estavam na pista Danilo Dirani (Truck), Julio Campos (Stock), Cristiano "Tuka" Rocha (Stock) e Rafael Mattos( F-Indy), todos com o motor da época, o Parilla Evolution.

Então Diogo resolveu ir para os EUA tentar a sorte, mas ela não o abraçou, e teve de parar de correr. A vida tinha que continuar.

Anos depois, já em 2010, recebeu convite para participar da construção do kartódromo de Registro (SP), onde nasceu.
Para inaugurar, convidou a turma que hoje brilha no autódromo, além do Lucas Di Grassi. E foi nesta prova beneficente, o GP da Solidariedade, que Diogo reapareceu para o kartismo.


Na sequência, com peças emprestadas na última hora, venceu a 3ª edição do Super Kart Brasil (SKB) em Interlagos, o que rendeu um convite da TECHSPEED para ser o piloto oficial. Em 2011, venceu várias provas, incluindo a 4ª edição do SKB e algumas do paulista.


Atualmente, além de pilotar para a fábrica, lidera um projeto de inclusão social patrocinado pela CBA, o PARAKART, onde treina deficientes físicos.

Diogo Zucarelli, que já foi “Xuxinha”, hoje tem 29 anos. E a ele dedico esta história.

História que poderia ter sido diferente...
... Talvez um F1 driver.
... Se a Tamburello fosse reta,
... Se aquela terça tivesse existido,
... Se eu tivesse tentado mais... Se... Se....



Presentes de natal

O que ganhei da família...

Da Beth e Silvia, dois lindos posters de largadas de Le Mans, e uma canecona de minha nora (que deve me ver deste jeito!).



Gostei muito, fiquei feliz. Beijos nas três mulheres da família.

"Xuxinha" Zucarelli (Parte III) - Depois de Imola a gente se vê...

A temporada 94 mal tinha começado e Xuxinha de imediato já apresentava seu cartão de visita!
Começou vencendo na Junior maior, correndo pela equipe de fábrica Mini com os novos PCR, contra os terríveis Parillas e com novos adversários: Pizzonia, Thiago Medeiros, entre outros que ficaram conhecidos.

Desde o final de 93 eu estava tentando uma forma de falar com Fabio (primo do Ayrton), meu colega de ginásio. Minha intenção era obter seu apoio para um plano de carreira na Europa.
Fazia mais de 25 anos que eu não tinha qualquer contato. Sua secretária atuava com perfeição colocando obstáculos.

Estávamos em abril de 94, um momento difícil para mim. Tinha perdido meu pai no início do mês e na sequência precisava ir para os EUA a trabalho. A pressão que eu havia imposto a mim mesmo sobre a carreira de Xuxinha me asfixiava.

Até que um dia, perto do final do mês, consegui furar o bloqueio. Na conversa com a secretária do Fabio, já com o s*** na lua, quase desistindo, falei:
- Olha, fala para o Fabio que eu não estou atrás da grana dele não, porque estou muito rico. E se ele não lembra de mim, fale que ele era o único que me chamava de "Chameta".
Pois Fabio estava ouvindo a conversa e entrou na linha:
- Hei, tô aqui, quanto tempo!

Creio que conversamos mais de uma hora. Falamos de tudo um pouco. Filhos, família, do bairro, dos colegas de CEDOM.
Expliquei porque eu o procurara e Fabio imediatamente respondeu:
- Chameta, você é de casa. É claro que o Ayrton terá o maior prazer em te orientar e ajudar no que for preciso. Vamos fazer o seguinte: O Ayrton está na Europa e no outro domingo corre em Imola. Chega aqui na terça, dia 3, e a agenda à tarde está livre. Venha para o escritório aqui em Santana, às cinco da tarde e você conversa com ele, ok?
- Claro Fabio, que bom. Então fica combinado: terça, depois de Imola, a gente se vê...



"Xuxinha" Zucarelli (parte II) - O campeonato de 93

Rotina na Jr. Menor de 93 - Vitória de Diogo,
com Massa em terceiro


Com sete pole positions e cinco vitórias, Xuxinha venceu a Junior menor de 93. Impossível contestar a superioridade.
Sua obsessão por vitória era percebida pela agressividade nas primeiras voltas e o ataque a quem estava na frente.

Enquanto ele se dedicava na pista, meu papel era trazer "sangue frio" a ele e ao time. Discutir sobre pneus, chassis, ouvir e trazer a visão lógica para a melhor decisão sobre o que fazer no kart e na prova.
Afastá-lo do "buxixo" era muito importante, impedindo que fosse contaminado pela pressão absurda que havia nos boxes.
Mães e pais de concorrentes se faziam presentes para "agitar".
Todos achando que seu filho seria o "novo Senna".

Para mim, Xuxinha poderia vir a ser um F1 driver.
Sua técnica, agressividade e obsessão eram elementos presentes.
"O sangue nos olhos" era constante.
Mas era briguento e algumas vezes teve que ser apartado.

Seu nome começou a aparecer na mídia.

O jornalista Maurício Kubrusly o entrevista para um novo Globo Repórter (pela segunda vez).
Para uma reportagem sobre futuros campeões no esporte, escolhem Xuxinha para representar automobilismo e sua entrevista se dá em um motel perto do autódromo.
Ele, com 11 anos, deitado na cama redonda com espelho no teto!
A revista Autoesporte estampa uma foto sua com o título "O Sucessor?", obviamente em um duplo sentido com Senna e sua  ex-namorada Xuxa.

Um fato muito marcante que ocorreu ainda em 92, antes dele ser patrocinado, foi uma corrida de kart na fazenda do Ayrton.
Depois da prova, Senna resolve distribuir presentes e declara que escolheria somente um piloto para ele entregar pessoalmente.
E o escolhido obviamente foi Xuxinha (quanta coincidência). Ganhou um autorama.

A Mini o convida para ser piloto de fábrica,(o segundo da história, antes somente Nicastro teve esta honra).
Eu começava a suar frio.
Percebia que tinha nas mãos um "winner", um legítimo "racing driver" e não podia me dedicar a sua carreira.
Sentia que ele poderia chegar longe no automobilismo se houvesse dinheiro e um padrinho para apresentá-lo na Europa.

Naquela época era diretor de uma multinacional e não tinha tempo para Diogo.
Sua carreira estava nas minhas mãos e senti a responsabilidade.
Até que um dia me lembrei do Fabio, primo do Ayrton...

"Xuxinha" Zucarelli (parte I) - O começo

Na metade dos anos 80, corríamos de kart nas ruas do Vale do Ribeira.
Uma insanidade. Pneus, guias e postes eram os limites e causaram danos irreversíveis em colegas de aventura.
Um dos "loucos" era João Peixoto (hoje na Classic Cup) com quem formaria equipe. Outro era Sergio Zucarelli.


No inicio dos anos 90 recebo um telefonema: Era o Sergio.
- Marcelo, o Diogo meu filho está andando de cadete e eu não quero cuidar disso. Este ambiente de pista me irrita, qualquer dia dou porrada em alguém! Quero que você cuide da carreira dele.
Você gosta e confio em você. E tem mais, não quero nem saber, ou você cuida ou ele para de correr!
Diogo era baixinho, loirinho, olhos azuis claros e por isso na pista era conhecido como "Xuxinha".
A missão: Cuidar da carreira do Diogo.
Tomei aquilo como uma farra para os finais de semana.
Não imaginava o que viria pela frente.
Diogo já havia aparecido em um Globo Repórter como Um Jovem Talento no Esporte.
Quando a jornalista perguntou ao moleque o que queria ser, só poderia vir: Campeão de F1!


Em 92, com o "paitrocínio" no limite, fez o último ano de cadete.
Eu, além de frequentar o kartódromo tentando ajudar no que era possível (quanta malandragem), buscava patrocinadores porque a grana tinha acabado.
Voltei a frequentar os preparadores que eu havia conhecido e trabalhado quando era kartista(Tchê, Pelé, Quirino, Katroque, a fabrica Mini do Sr. Mario).
No kartódromo logo me apelidaram de Ron Dennis, (com jeitão de entendido mas sem fazer nada), mas um tempo depois já estava merecendo a "carterinha de malandro".
Me divertia posando de Ron.


A rodinha de futebol no estacionamento do kartódromo era: Pizzonia, Ricardo Mauricio, Bernoldi, Nicastro, uma menina mais novinha chamada Bia (hoje na Indy) e até um garoto que na pista era "encardido", um tal de Felipe, que mais tarde ficou famoso usando macacão vermelho.

Janeiro de 93, uma quarta-feira, toca o telefone. Era o Diogo:
- Tio, a tia Marlene ligou e pediu para eu ir para o Rio amanhã.
- Quem é esta Marlene?
- Aquela que manda na Xuxa. Eu não falei prô senhor mas eu fiz uma cartinha pra tia Xuxa pedindo grana pra correr e ela mandou me chamar.
- O que voce pediu?
- Pedi 3 mil dólares por corrida! (Diogo tinha 11 anos).
- Que coisa maluca Diogo, vai então e me conta!

Quinta feira:
- Tio, aqui é o Diogo, tô no Rio, a tia Marlene falou comigo e perguntou o que quero da vida. Falei que quero ser o novo Senna. Ela então disse que vai me levar ao meu sonho e amanhã a Xuxa me quer no programa.
 - Rabudo!!!!

Sexta feira:
- Tio, aqui é o Diogo. Fui no programa, a tia Xuxa me chamou no palco, me apresentou como novo patrocinado da empresa de turismo Xuxatour e disse que tudo que ela toca vira ouro. Pôs a mão na minha cabeça e disse que ia me fazer campeão!
-Rabudo!

Na metade dos anos 80, corríamos de kart nas ruas do Vale do Ribeira.
Uma insanidade. Pneus, guias e postes eram os limites e causaram danos irreversíveis em colegas de aventura.
Um dos "loucos" era João Peixoto (hoje na Classic Cup) com quem formaria equipe. Outro era Sergio Zucarelli.


No inicio dos anos 90 recebo um telefonema: Era o Sergio.
- Marcelo, o Diogo meu filho está andando de cadete e eu não quero cuidar disso. Este ambiente de pista me irrita, qualquer dia dou porrada em alguém! Quero que você cuide da carreira dele.
Você gosta e confio em você. E tem mais, não quero nem saber, ou você cuida ou ele para de correr!
Diogo era baixinho, loirinho, olhos azuis claros e por isso na pista era conhecido como "Xuxinha".
A missão: Cuidar da carreira do Diogo.
Tomei aquilo como uma farra para os finais de semana.
Não imaginava o que viria pela frente.
Diogo já havia aparecido em um Globo Repórter como Um Jovem Talento no Esporte.
Quando a jornalista perguntou ao moleque o que queria ser, só poderia vir: Campeão de F1!


Em 92, com o "paitrocínio" no limite, fez o último ano de cadete.
Eu, além de frequentar o kartódromo tentando ajudar no que era possível (quanta malandragem), buscava patrocinadores porque a grana tinha acabado.
Voltei a frequentar os preparadores que eu havia conhecido e trabalhado quando era kartista(Tchê, Pelé, Quirino, Katroque, a fabrica Mini do Sr. Mario).
No kartódromo logo me apelidaram de Ron Dennis, (com jeitão de entendido mas sem fazer nada), mas um tempo depois já estava merecendo a "carterinha de malandro".
Me divertia posando de Ron.


A rodinha de futebol no estacionamento do kartódromo era: Pizzonia, Ricardo Mauricio, Bernoldi, Nicastro, uma menina mais novinha chamada Bia (hoje na Indy) e até um garoto que na pista era "encardido", um tal de Felipe, que mais tarde ficou famoso usando macacão vermelho.

Janeiro de 93, uma quarta-feira, toca o telefone. Era o Diogo:
- Tio, a tia Marlene ligou e pediu para eu ir para o Rio amanhã.
- Quem é esta Marlene?
- Aquela que manda na Xuxa. Eu não falei prô senhor mas eu fiz uma cartinha pra tia Xuxa pedindo grana pra correr e ela mandou me chamar.
- O que voce pediu?
- Pedi 3 mil dólares por corrida! (Diogo tinha 11 anos).
- Que coisa maluca Diogo, vai então e me conta!

Quinta feira:
- Tio, aqui é o Diogo, tô no Rio, a tia Marlene falou comigo e perguntou o que quero da vida. Falei que quero ser o novo Senna. Ela então disse que vai me levar ao meu sonho e amanhã a Xuxa me quer no programa.
 - Rabudo!!!!

Sexta feira:
- Tio, aqui é o Diogo. Fui no programa, a tia Xuxa me chamou no palco, me apresentou como novo patrocinado da empresa de turismo Xuxatour e disse que tudo que ela toca vira ouro. Pôs a mão na minha cabeça e disse que ia me fazer campeão!
-Rabudo!
Xuxinha (15) ultrapassando Massa (20)
na categoria Jr. Menor, Camp. Paulista 93


Um susto a 170 km e o churrasco de coelho



Londrina 2010. Quase tudo certo, mas no final...
Eu nunca havia estado em Londrina, pista difícil, com um curto saca rolha.
Fiz um bom treino livre, segundo tempo.
Mas na classificação o motor não subiu de giro, "deve ser o álcool" disse o Nenê.
Discordei, acreditava que faltava o ajuste fino, estava muito quente.
Nada de motor e oitavo tempo para a largada da primeira prova.
No briefing o diretor da prova avisou:
- Vamos largar Parados. Parados, entendido?!
Um pouco de chiadeira. P***, lá em Interlagos nossa largada é lançada, (meu câmbio é longo). Ficou mal resolvido.
Alinhamento e já com todos no grid, o Starter avisa pelos auto falantes: LARGADA LANÇADA!
Ops, será que os que reclamaram no briefing "ganharam no grito"?
Fiquei bem quietinho, volta de apresentação, pronto para dar o bote, afinal a largada será LANÇADA. Luz vermelha apagada, acelero e... Só eu?
Olho para os demais e ninguém veio junto.
F*DEU!
E agora?
- Vai, dá uma volta e alinha de novo! Grita o Starter.
Me sobrava voltar ao grid o mais rápido possível.
Sentei a bota, retão em descida, vejo lá embaixo um coelho cruzando a pista. Um coelho!
Não tiro o pé.
Passo pelo local, devia estar a uns 170, o coelho resolve voltar e... Encaçapa na entrada de ar para o radiador, rompe tudo, libera toda a água, fim de corrida sem ter começado.
O que restou do coelho volta comigo para os boxes.
Atração geral, veja as perninhas! Fotos, fotos!
Trouxe quatro pés de coelho, será que é o sinal de sorte extra?
Ainda não sei.
Mas o que importa é a satisfação dos amigos, fiquei famoso.
Daquela tarde em diante sou convidado com frequência para voltar para Londrina para garantir o churrasco.



Este aqui é meu primo Ayrton...

Acho que foi em 1967, não sei muito bem.
Estávamos no jardim da frente da casa do Fabio, colega do CEDOM, que citei em outro post.
Missão da tarde: fazer funcionar um kart Silpo que havíamos comprado em vaquinha.
Uma casa típica da zona norte, em uma curva, rua estreita perto da Pedro Doll.
O kart estava em cima de uns caixotes de cerveja. Conversa animada.
Sai de dentro da casa um garoto, devia ter uns sete/oito anos. Começa a perguntar sobre o kart. Diz que também tinha um.
Fabio explica: "Seu pai trouxe escondido no avião um motor McCulloch".
Uau, o que é isso?
Um motor McCulloch? É motor de kart importado.
- Poxa Fabio, seu primo é rico?
- Pois é, sabe aquelas maçanetas de fusca, aquelas que tem uns furos?
- Sabe o "chega mais"? Meu tio fabrica.
- Eles moram lá na rua Pedro, perto do Horto.
- Ei, garoto, aonde você anda?
- Lá no loteamento das Palmas do Tremembé. Vamos andar juntos, a gente pode brincar.
-Garoto, qual é teu nome?
Fabio se intromete: "Ô, Chameta, este aqui é meu primo Ayrton".
Ah, Se eu soubesse o que surgiria logo depois...
PS: "Chameta" era como o Fabio me chamava.

O bundão e o Espron do campeão



Uma sexta feira, acho que no ano 2000, recebi um telefonema do Zeca:

- Marcelo, você comentou que queria andar no Espron para sentir o carro. Temos alguns para vender e queremos que experimente. Se gostar, damos um jeito. Venha para Brasília neste domingo, assista a prova conosco e depois você anda.

E lá fui, avião, pista, box, autódromo Nelson Piquet.

Quem me recebeu foi o Ruyter, sócio do Nelson na empreitada de criar e desenvolver a categoria.

- Marcelo, hoje o Nelson vai andar e depois da prova você usa o carro dele, ok?

Ops.

Aquele torpedo, chassi tubular, motor BMW, anel externo do autódromo de Brasília, carro do.. do... do Piquet, meu ídolo, meu máximo.

O F1 driver perfeito = Rapido E Comedor! O sonho do macho latino!

Para quem nunca havia sentado a bota num carro de corrida, saído do kart há pelo menos 20 anos?

Vai dar merda!!

E lá fiquei, no box com o campeão dormindo ao meu lado, esticado sobre a carenagem do seu... do meu Espron.

E minha cabeça a mil: "vou destruir este carro, não vou conseguir andar rápido, slick, anel externo, carro do campeão".

Ao meu lado, assim pertinho o suficiente para ouvir o ronco,  acordava, olhava, dormia, acordava, olhava, dormia. Um quase urso da montanha.

Vamos lá meu Deus, tá certo, eu só ia na igreja para jogar na quadra de futebol de salão, você tá certo, mas agora é uma emergência, não tá certo acertar as contas agora, isso é se aproveitar da situação.

Bandeirada, pau, uns vinte Espron levantando poeira, segunda, terceira, sei lá que volta, o MEU carro em terceiro, Ruyter no comando, tá chegando a hora.

Senti um tapa no ombro, ouvi: "vai ser só esta vez, na próxima tem que pagar penitência".

Uma pancada de chuva inesperada cai na curva da vitória, o líder roda, os que estavam embutidos vão juntos, o campeão não escapa, arregaça o MEU carro.

- Que azar, quebrou a rebimboca, não vai dar para andar hoje, você pode ficar para andarmos na terça - Diz Ruyter.

- Sabe, tenho uma agenda cheia, tenho que voltar, não vai dar não.

Olho pra cima, vejo um velhinho que sussurra: bundão!

CEDOM, minha escola e a paixão pelas corridas



Estudei o ginásio e científico no Colégio Estadual Doutor Otavio Mendes, o CEDOM, no bairro de Santana (São Paulo). Tenho boas lembranças do meu tempo de estudante, do "teatro" (sim, tinhamos um super teatro), dos colegas, amigos que encontro.

Mas uma peculiaridade influenciou profundamente minha vida: O estranho esporte preferido pela maioria dos colegas:  AUTOMOBILISMO.

Nada de futebol nos tempos de Pelé.

Mas Chico Landi era do bairro, na volta da escola passávamos em frente sua casa na rua Banco das Palmas, cruzávamos com ele na Padaria Polar comprando pão como um qualquer.

Na decada de 60, com Emerson imberbe, mas com Camilo, Bird, Luisinho, queríamos corridas!

Na avenida Cruzeiro do Sul assistíamos aos rachas dos Thunderbirds, Berlinetas e Fuscas envenenados motor 1,9 "virabrequim roletado".

O Milton, mecânico que arrumava o Mercury do meu pai, era preparador de carros de corrida.

O Laranjeira, jornalista e fotógrafo, vivia por ali.

Nossa revistas eram Fantasma, Mandrake e as de automobilismo. Quatro Rodas e as importadas (compradas na livraria de Congonhas), com as novidades: Mustangs, Camaros e o suprassumo dos sonhos, o Cobra Shelby.

Lembro que eramos tão fanáticos que alguns se arriscaram a correr. Atila Sipos, (famoso por ter descido a escadaria da escola com sua super Kombi) que ganhou um campeonato de fórmula Fiat, e Chiquinho Gabriel, que íamos assistir em Interlagos de F-Ford.

Em turma compramos um velho kart Silpo, motor quebrado.

Com ele, corríamos no quintal de 110 metros de reta da casa do Claudio.

Lembro do trabalho de formatura do curso de ARTES PLÁSTICAS, professor Edmur. De quatro turmas, duas fizeram maquetes de autódromos, Interlagos e Silverstone.

Aos amigos do CEDOM, saudades.

Para Mario, Mauro, Koga, Claudio, Wagner e muitos outros do  "Taturanas Team".

Por isso tudo, o adesivo no meu carro, o Puma 3 laranja.

Sobre Fabio, que teve que nos abandonar subitamente, escrevo em breve sobre kartismo e o dia que conheci seu priminho pentelho... Ayrton.

Monza


Parco di Monza, 11 de setembro de 1977. Na pole, James Hunt com McLaren.

Para nós brasileiros, o fundo do poço com Emerson de Copersucar e Alex Dias Ribeiro de March sem conseguir classificação para a prova.

Um dia com mais surpresas, Lauda anuncia aposentadoria, não correria em 78.

Vitória fácil do fenomenal Lotus 78 nas mãos de Mario Andretti, seguido de Lauda e Alan Jones, ainda com Shadow.

Mas quero escrever sobre Monza, onde estivemos duas vezes.

Em um silencioso dia de semana no outono de 96 e no GP da Itália em 2006.

Este GP 2006  viu a vitória de Schumacher com Ferrari. Êxtase na pista, fomos levados pela multidão até debaixo do podium.

Não lembro de termos caminhado, acho que fomos flutuando espremidos pela multidão, na tradicional invasão de pista.

Monza neste dia estava em festa, Ferrari, Schumacher campeão.

Mas foi em um dia de outono, em 96, que sentimos este templo.

No meio de um parque (Parco di Monza ) do Instituto Agronômico local.

Monza tem o silêncio que procuro nos autódromos.

Monza é apaixonante para caminhar entre as árvores, ouvir os pássaros, ver o brilho do sol em toda a reta que some na parabólica.

Um parque na essência, com árvores centenárias, bosques fechados que revelam de surpresa o asfalto escondido pela vegetação.

Monza para mim é um dos TOP 3, mesmo sem corridas.

Meus sonhos ainda me levam a andar em Monza, se possível de protótipo Abarth aberto, vermelho.

Watkins Glen 69 - Rindt, Hill e parafusos nos pneus

O GP dos Estados Unidos de 69 marca o início do curto e trágico reinado de Rindt.

Depois de várias provas mostrando talento mas sem podium, Rindt larga com o Lotus 49B e consegue sua primeira vitória, tão acachapante  sobre Stewart que leva Chapman a renovar seu contrato para a fatídica temporada de 70 quando correria com a  fantástica Lotus 72. Até este dia, era conhecido como o rei da F2, mas um quebrador de carros.

Este GP, entretanto,  foi marcado pelo brutal e ridículo acidente de Graham Hill, que traria mudanças no automobilismo. Com um pneu traseiro furado, Hill entorta, sai da pista e apaga o motor.

Naquele tempo, quando o automobilismo era "amador", sem regras claras, Hill sai do carro para empurrar e fazer o motor pegar. Volta ao carro, sem prender seu cinto de segurança e vai em direção ao box devagar para trocar o pneu mas capota no caminho quando a borracha sai do aro e este toca no chão.

Hill quebrou as duas pernas e temeu-se não mais andar. Começou aqui o crepúsculo de Hill.

A F1, no entanto, avaliou que o risco do pneu sair do aro era grande e surgem os parafusos que durante muito tempo fixaram a borracha no metal.

Nurburgring

No circuito completo na floresta perto de Adenau, um GP espetacular, vitória de Reutemann com um dos chassis mais perfeitos que conheci, o Brabhan BT44, o mesmo que deu a Pace sua única vitória meses antes em Interlagos.

Com distribuição de peso fantástica, chassi curto, perfeito para curvas de baixa, foi dominante e, não fosse Reutemann irregular ao longo do ano, teria sido um candidato realmente forte ao título que ficou nas mãos de Lauda.

Emerson quebrou nesta prova assim como Wilsinho, no primeiro ano do Copersucar 30.

Lauda teve um pneu furado e James Hunt com o 24 do Lord já fazia malabarismos.

Conheci Nurburgring com toda sua magia em janeiro de 78.

Fomos de trem de Hannover até Adenau e depois de carona até a pista.
As fotos já desbotadas me levam para este templo do automobilismo.

Lembro bem de estar naquele dia frio do inverno alemão, tomando café com bolo de chocolate na beira da pista e sonhando.

Ainda pensava em cravar o pedal nos 22km.

Sonhava com um Porsche 908 aberto.

Nurburgring ainda está lá.

Porque não continuar a sonhar?

SPA

Com Piquet,  de Williams-Honda na pole, a largada de SPA 86 foi um desastre para o quase estreante Berger.

Espremido na largada, na estreita La Source, roda e fica para o fim da fila, sem deixar de levar junto um Prost azarado que largava em terceiro.

Foi um banho de água fria para quem largava em segundo. Piquet escapou ileso da lambança e seguiu firme na ponta até a volta 17, quando seu motor Honda o traiu e o deixou a pé.

Liderança dada de presente a Senna, que a mantém por poucas voltas até a troca de pneus e abastecimento. Mansell, que vinha herdando posições depois de rodar no Bus Stop na quinta volta, assume a ponta após ganhar quase dois segundos nos boxes.


Sua Williams muito forte encosta na Lotus de Senna e vai embora, abrindo quase 20 segundos até o final. A prova termina com Mansell, Senna, Johansson e Alboreto (ambos de Ferrari).

SPA de 86 foi marcada pela ausência de Elio de Angelis, morto duas semanas antes em treino privado com sua Brabham BT55 BMW, um carro tão baixo que se acreditava experimental.

Elio morreu em Paul Ricard, que por isso foi condenado a reformas.

Em SPA,  pressionada pela morte de Elio, a FIA muda o regulamento dos motores para 87, reduzindo a potência para trazer mais dirigibilidade e segurança.

Tive o prazer de dirigir em SPA em 96, com um modesto Megane.

Cinco voltas em baixa velocidade, sentindo os ups and downs, esquerda/direita, fazendo a Eau Rouge.

Mas um fato extra-pista foi marcante. Chegando em SPA, na ruazinha de acesso me deparei com uma loja de miniaturas.

Seu dono, meu xará, Marcelo, muito discreto me perguntou se desejava algo.

Não queria gastar e falei, certo que eu teria um argumento para deixar a loja "você tem miniatura do Copersucar?".

Para meu espanto ouvi "Of course, what model?".

De imediato me chamou para uma sala (diria ter 80m2) e lá me deparei com mais de 2000, sim, duas mil miniaturas de F1, de todas as equipes, marcas, patrocinadores, chassis, pinturas.

E obviamente, TODOS os modelos de Copersucar, os pratas e depois os Fitti Skol.

Sem graça, perguntei "você vende um Copersucar?".

A resposta foi clara "vendo o que tem na loja, os desta sala são da minha coleção!".

Zandvoort

Conhecemos Zandvoort logo depois do Natal de 77. Estava na Alemanha com Beth, passando um longo período de aperfeiçoamento profissional e decidimos passar o Natal na Holanda.

Lembro bem que no dia 26, pegamos um trem e fomos para a pista. Estava ocorrendo um treino livre, com carros de turismo e fórmulas (Ford).

Sentamos no gramado atrás do box, de frente para a curva do bacião.

Viamos os Mini Coopers cantando pneus. Os Minis originais.

Ouvimos um holandês nos perguntar sobre Buenos Aires e se comiamos carne no Brazil (?).

Lá no final da reta, estava a terrível curva "pé cravado" Tarzan, lá o primeiro grande acidente do Emerson ainda de Lotus.

Zandvoort era curta, estreita, boxes acanhados.

Na beira do mar do norte, o vento soprava forte e empurrava areia para o asfalto.

Prova difícil, a Holanda não compensou o suficiente para Bernie.

Já se vão muitos anos sem Zandvoort.

A prova de 74 foi de Lauda com Ferrari 312 B3, seguido de Regazzoni (Ferrari)  e Emerson.

Este, somando pontos, fez o bi com McLaren.

Uma prova sem emoção.

Brands Hatch


Em post anterior, falei sobre Charade (Clermont Ferrand). Inesquecível, foi esquecido pela nova F1.

Na lista dos Top Five guardo Brands Hatch, Inglaterra, quando tudo lá começava, da F-Ford para a F3,  F2 até o convite para a F1.

Lá vi Stewart, Fitti, Clay, Cevert. Grandes corridas com Lauda, Piquet.

Hoje, depois da horrível cirurgia em Silverstone para ganhar o contrato para o GP, para Brands sobram as provas nacionais.

O cartaz acima convidava para a prova que comemoraria o campeonato de 71, o tri de Stewart.

Mas não houve festa.

Siffert, o suíço, teve a suspensão quebrada em um toque, descida pé embaixo, freio e direita/esquerda, barranco, choque, fogo.

Naquele tempo em que os carros pegavam fogo facilmente, sem chance ao piloto. Perdemos Siffert.

Charade


Um dia de Gran Prix se caracterizava pela mistura de competição e ambiente. O verde das árvores e flores nos parques que abrigavam os circuitos se completavam pela circulação de gente bonita, alegre, barulhenta.


Os pilotos representavam o que todos seus iguais queriam ser. Charade fez parte do especial grupo de circuitos completos, de paisagem, pilotagem e glamour. Seu fim foi precipitado por um acidente banal, uma pedra no olho de Helmut Markko selou seu destino, do piloto sem um olho, do circuito sem a prova.


Mas continua vivo nos românticos, com provas de endurance nacional, um contínuo desafio a quem ama automobilismo, o velho de garagem, aquele do final de semana, competir por competir, com sua paisagem entrando pela viseira.

Adoro esta pista, para mim uma das Top Five do automobilismo.

Na fotos, um pôster do GP de 72, o último em Charade, um desenho do old circuit, o desafio nas montanhas, e uma largada de F3, com Jabouille na frente.

Justa homenagem àquele que de mecânico se fez ídolo na França, levou a marca Matra ao podium e à primeira vitória da Renault F1.